Vaulderie

Dementação

Quando eu e Malka nos encontramos eu estava nesse bar com meus parças de lei, na época eu acredito que eram Banana, Jonas e Caótico, eu não tenho certeza. Pensando aqui era um trio que fazia pouco sentido estar junto mas antigamente a gente se reunia no modo aleatório mesmo pra sair por aí. Quando eu saia com meus amigos eu era prepotente af, "era" o meu jeito.😮‍💨

Então quando eu estava conversando e veio um menino falar comigo pedindo cigarro eu imagino que eu tenha sido um nojo respondendo que não tinha, do alto do meu salto 15 e dando pouca ou zero atenção. Eu honestamente não lembro como respondi. Mas eu lembro que o olhar dele foi muito comovente e ele saiu bem rápido, aquilo meio que me quebrou e eu fui atrás dele com um cigarro. Talvez eu tenha acreditado muito que ele queria um cigarro e só depois eu tenha visto que não era bem assim, eu não sei mesmo. Nós conversamos por um bom tempo e eu lembro porque meu amigo estava fazendo caretas do tipo "tédio" pelas costas dele, mas era uma conversa incessante que eu não conseguia me disvencilhar e acabamos (eu juro, não sei como, depois de vários temas aleatórios) nos beijando e foi ótimo mas foi só aquilo mesmo e vida que segue.

Ao longo daquela semana nos esbarramos ao acaso no Centro de Niterói, lembro que ele puxou meu braço e nos demos oi e pronto, nesse dia a gente trocou telefone e tudo mais, fizemos um breve acerto de contas graças à Michelle e ao Pedro e assim começamos a nos falar de vez em quando. Mas era uma situação muito complicada para nós dois. Por motivos de adolescência a gente não se levava a sério. Mas aquilo criou tudo que ficou latente nas nossas lembranças como um código: igreja, Árabs, aniversário de 18 anos, Trakinas.

Toque do Espírito

Nós passamos alguns anos sem contato. Aqueles que estiveram ao nosso lado nesses anos sabem que seguimos nossas vidas. Mesmo assim, algumas vezes ele entrou em contato mas, por estar seguindo meu caminho com outra pessoa, nós não nos reaproximamos. Foi muito inesperado pra mim que ele tivesse tanto apego às nossas histórias (e uma memória tão boa sobre quase tudo o que aconteceu). Os lugares que fomos ainda eram lugares com memórias daquela época pra mim porque não era meu costume frequentá-los. Mas a nossa vida é uma anedota atrás da outra. Eu e ele acabamos passando por separações na mesma época (o nosso antigo plano falido se realizando no modo aleatório anos depois). Foi quando a teia malkaviana começou a interagir intensamente com nossa realidade palpável e por meio dos maiores ardis nós voltamos a nos falar. Esta parte da história é uma nota de rodapé que só cabe aos pouquíssimos envolvidos nos eventos que se passaram naquele período.

Magnetismo Estelar

Num final de dia eu recebi a primeira mensagem do malkaviano sem precisar dar um tchau automático. Naquela semana os meus amigos tinham resolvido começar a jogar Vampire* depois de uma vida jogando D&D então eu finalmente sabia de onde vinha o apelido "Malka". Essa descoberta, naquele momento, já tinha me trazido a lembrança dele antes do "oi, sumida" do dia 05. Quem sabe entende que aquilo garantiu um +3 e rerolagem no check. E ele precisava com certeza porque naquele momento eu recebi uma mensagem de um perfil com uma foto de desenho de Dragon Ball. E se você, que está lendo acha o máximo eu te respeito mas eu era a pior pessoa pra impressionar com um desenho como imagem de perfil. Naquele momento a gente colocou muita conversa em dia e quase ficamos muito amigos. Nós estávamos num momento complicado, de novo, com muitas coisas a serem resolvidas, estávamos em processos problemáticos de separação. Isso fez com que fôssemos nos tornando muito confidentes, além das conversas sobre nosso passado juntos criamos conversas sobre um mundo paralelo, ou futuro, não sei. Foi assim que, de repente, começamos a conversar quase todos os dias. No nosso reencontro, na antivéspera do Natal, deu tudo errado. Nós mal tivemos tempo de tomar um café, o Malka eloquente do celular definitivamente não era a pessoa que foi me encontrar e um ex resolveu brotar do umbral naquele dia, naquela hora. Eu queria que tudo tivesse sido legal mas não foi e eu meio que fugi de dois malucos, essa tinha sido minha impressão.

Mas depois disso eu lembro que queria passar o ano novo com ele comendo pizza e tomando cerveja no chão do kitnet, hoje em dia eu vejo que aquele encontro não deu tão errado assim.

Quando finalmente deixamos nossos terrores mentais de lado, nossos dramas e aceitamos que nós nunca seríamos só amigos mesmo, senhoras e senhores, foi uma das coisas mais bonitas que esta toreadora que lhes escreve vivenciou na vida.

Aliviando a Alma Bestial

O que faz uma pessoa perceber que está vivendo algo que vai mudar a sua vida? Quanto tempo leva até que você perceba que está bem, está feliz e que merece viver em paz? No meu caso eu estava com um pouco de dificuldade em assimilar isso. Não era o momento, eu dizia. Não ia dar certo, não vamos passar disso. Quanta balela eu tentava acreditar naquela época.

Um dia nos beijamos, demos nossas mãos e saímos andando pela rua no meio da madrugada. Foi assim desde o início, duas pessoas perdidas se reencontrando e criando algo formidável, sabe. Quando eu lembro que nós não saíamos, não nos víamos durante a semana, gente, a quantidade de restrições que este senhor vivenciou foi tensa. Foi também o "pedido" de casamento mais rápido que eu recebi, no primeiro (que foi uma brincadeira muito perigosa que só poderia vir de um malkaviano mesmo), eu quase fugi para as colinas ou atendi ao Chamado*. E então começamos a namorar e eu tinha vergonha de falar que estava namorando para os meus pais. Quem contou foi a minha irmã.

Imaginem uma proporção gigantesca de carinho e cuidado, uma que te tira de um estado de conformações e expectativas medíocres e te leva a aspirar à mais sublime felicidade, àquela que vem apenas de estar sendo você mesmo e compartilhar a vida com quem te aprecia desse jeito. Estar à vontade com alguém que você ama, que te ama também. Nós aprendemos um bocado um com o outro nesse tempo, amadurecemos nas dificuldades, fomos totalmente malucos na bonança (vide o Dante!).

Então, eu sei, a gente não sabe como vai ser daqui adiante com certeza. O que nós temos é a nossa vontade de cuidar um do outro, nossa admiração mútua, nosso ímpeto irrefreável de estarmos juntos (como já era desde os tempos mais primórdios). Tem sido um privilégio enorme.